Rita: a assistente virtual que orienta mulheres sobre o aborto legal

Um projeto desenvolvido por 4 mulheres com o objetivo de ampliar o debate sobre o assunto

Pâmella Fialho
8 min readNov 29, 2021

Introdução

Ana Carolina Dal Zotto, Anne Minvielle, Katherine Paes e Pâmella Santos são os quatro nomes das mulheres por trás desse lindo e desafiador projeto. Durante o curso Botcamp tivemos o desafio de escolher um tema no âmbito social para que pudéssemos utilizar nossos conhecimentos de IAs conversacionais e ajudar pessoas. Percebemos o quanto o aborto legal é mal visto na sociedade e como muitas muitas mulheres não possuem as informações necessárias para realizá-lo. Por isso, escolhemos o tema pensando nas muitas mulheres que diariamente são vítimas de abuso sexual, engravidam e desconhecem os seus direitos.

Contextualização

São notícias como essas que infelizmente vemos diariamente. São mulheres e meninas que perdem sua vida para o estupro.

A primeira etapa foi entender todo o cenário atual em relação ao procedimento. Para tal foi realizada uma desk research, ou pesquisa exploratória com dados estatísticos e informações que agregariam no projeto.

Segundo o estudo realizado pelo IPEA, Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, 7% a 15% dos estupros resultam em gravidez. Essas mulheres teriam o direito ao aborto legal, mas infelizmente o índice de abortos realizados é menor que a quantidade de mulheres que teriam esse direito garantido como exemplificado pelo portal Catarinas.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

É preocupante perceber que milhares de mulheres não conseguem ter acesso ao aborto legal por desconhecimento, medo e até julgamento. Atualmente o procedimento é permitido por lei em apenas 3 situações:

  • Estupro;
  • Anencefalia fetal;
  • Risco de vida para a mulher.

E em quaisquer das situações existe dificuldade de realizar o aborto ainda que permitido por lei. Alguns médicos e hospitais se recusam a realizá-lo, outros tentam coagir as vítimas com o objetivo de fazê-las irem até o fim com a gravidez, resultando em uma sequência de violências até o momento de conseguir (se conseguir) interromper a gravidez. Essas mulheres, então, são submetidas a violência física, psicológica, emocional e social tornando todo o processo mais moroso, tendo de provar que de fato sofreram abuso sexual, caso se refira a essa situação.

Levantamento de suposições e dúvidas

Antes de passarmos para a construção da Rita, precisávamos entender o que as mulheres passaram, sentiam e pensavam sobre o assunto. Havia informações que não tínhamos conhecimento e por isso criamos uma matriz com nossas suposições e dúvidas acerca do assunto. Foi uma matriz CSD, porém sem as certezas, uma vez que naquele momento não vimos necessidade.

Suposições e dúvidas levantadas no início do projeto

Era muito importante entendermos sobre as leis e os processos envolvidos para o aborto legal, pois perceberíamos adiante que não seria uma tarefa fácil.

Mapeamento de públicos extremos

Mapeamos os públicos extremos que envolviam o aborto com o intuito de dispor vários perfis diferentes que tratariam do assunto e descobrir o caminho a ser seguido. Isso porque não era possível tratar o assunto em todos esses públicos pelo nível de complexidade. Para tal escolhemos o de mulheres vítimas de estupro.

Públicos extremos descritos para a tomada de decisão

Entrevistas

Chegamos na parte mais difícil do projeto: as entrevistas. Isso porque falar sobre estupro e aborto é um enorme desafio para as mulheres que passaram. Apesar de poucas entrevistas que fizemos, conseguimos um direcionamento com uma médica e advogada sobre o esse processo violento do aborto legal. Além disso, entrevistamos uma vítima de abuso sexual e que realizou o aborto. Foi uma entrevista extremamente dolorosa e pudemos perceber a cadeia de violências que uma mulher passa para ter o acesso aos seus direitos.

Embora a lei seja clara sobre as situações previstas para a realização do procedimento, a cadeia de violências está sempre presente para dificultar o acesso dessas mulheres. O nosso projeto tinha um sentido, uma razão de existir, e era para auxiliar o máximo de mulheres que conseguíssemos a fim que essa situação atenuasse pelo menos um pouco com as informações que muitas infelizmente desconhecem. No cotidiano é comum ver mulheres serem julgadas por agirem de determinada forma e, quando se trata do aborto, mais ainda. Várias delas sentem medo do julgamento e de como será o processo.

Reunimos todas as informações que recebemos com as entrevistas e tomamos nota dos insights, dos principais assuntos expostos e nossas possíveis ideias para minimizar o doloroso processo até o aborto legal. Essas informações que conseguimos nos impulsionaram a criar uma assistente virtual que orientasse sobre o tema.

Processo de anotações das entrevistas, categorização de assuntos, insights e ideias

Personas

Entendendo o perfil da mulher para quem seria a nossa solução, criamos a persona. Pensamos por bem em criar duas personas: uma para a mulher retratada e outra para a assistente virtual Rita, afinal, queríamos que a Rita tivesse uma imagem e desse sentido ao que estávamos fazendo e não somente ser um bot.

Persona da mulher

Persona da Maria Luiza

Persona da assistente virtual

Persona da assistente virtual Rita

Para a Rita, consideramos inserir um breve resumo sobre como ela se portaria durante a conversa, pensando no estado emocional da mulher para refletirmos o tom e voz. Escolhemos o nome Rita por ser curto, simples e sonoro.

Decisão de negócio

Nossa intenção nunca foi lucrar com a Rita, mas sim ter um papel social. E para que existisse conforto durante a conversa e sem julgamentos, decidimos não desenvolver um bot no WhatsApp ou nos principais aplicativos de mensageria. Queríamos focar no anonimato dessas mulheres de alguma maneira, consequentemente decidimos criar um site simples, como um MVP (mínimo produto viável), para colocar a Rita. Assim, quem conversasse com a Rita não teria seu nome e número dispostos no chat.

Sabemos que não é possível até então garantir o anonimato 100%, devido as partes mais técnicas que envolvem inclusive rastreio de IP do usuário, porém, diretamente do chat ninguém saberá quem conversou com a Rita. Ademais, pelo fato de o tema ser abrangente e envolver outras situações da lei mais complexas, decidimos seguir pela linha de abuso sexual ou estupro.

Para a construção da Rita, utilizamos o IBM Watson com suas definições de intenções e entidades. Por ser gratuito para o que precisávamos, essa escolha tornou o processo mais simples de ser desenvolvido.

Jobs to be done

Utilizamos o jobs to be done para elucidar a jornada e objetivo que uma mulher teria em relação ao aborto legal. Nessa etapa, explanamos as outras situações previstas em lei a fim de que tivéssemos uma visão das possíveis oportunidades existentes para o âmbito social.

Descrição resumida da jornada da mulher e os objetivos em relação ao aborto

Desenvolvimento

Primeiramente foi criada uma planilha com as intenções, possíveis entidades e respostas. Desse modo, o desenvolvimento seria mais organizado ao passar para o IBM Watson.

Planilha com intenções, entidades e respostas

Também criou-se o site como um exemplo de como ficaria com o chat. O site não é definitivo, contudo, como um MVP atenderia bem por enquanto.

Protótipo do site

Curadoria

Lançamos a Rita para o mundo no dia 28 de setembro, dia da descriminalização do aborto. Um dia extremamente importante que marcou toda a criação da assistente virtual que orienta mulheres sobre um tema tão delicado.

Por meio da curadoria, pudemos perceber como a Rita estava respondendo as informações. Recebemos feedbacks muito positivos pelo nível de acurácia da nossa assistente e sugestões para desenvolver. Desde então, continuamos melhorando as respostas, inserindo informações necessárias para o processo e temos muitas melhorias pela frente. O nosso objetivo é tornar a conversa com uma assistente virtual, uma conversa entre duas amigas.

A curadoria trouxe muitas possíveis melhorias para a conversa como, por exemplo, tratarmos a situação de quando uma pessoa não binária ou homem trans precisarem realizar um aborto. Também refletir sobre respostas para quando uma pessoa disser que não deseja viver mais, que não tem apoio da família ou quer morrer. São situações delicadas que precisaremos mapear e entender melhor a fim de que sejam contempladas ou que tenham um direcionamento para encontrar as informações.

Durante essa etapa, percebi como as respostas poderiam ter um padrão e por isso criei o guia conversacional da Rita. Um guia simples, mas que nos norteará daqui pra frente para cada nova resposta.

Conheça o guia conversacional da Rita aqui ✏️

Roadmap

E é claro que temos próximos passos. Criamos um roadmap com as principais melhorias, funcionalidades e integrações que queremos desenvolver para a nossa bot sobre o aborto legal.

Próximos passos descritos para o ano de 2021 e 2022

Queremos continuar evoluindo a Rita e ampliando o tema, pois, pode ser que não resolvamos esse problema para todas as mulheres, mas o pouco que fazemos em informar com certeza fará a diferença para muitas delas. A propósito, converse com a Rita no nosso site

É só clicar no chat ao lado como na imagem a seguir:

Site do projeto com o chat da Rita

--

--

Pâmella Fialho

Alguém que curte aprender coisas novas e compartilhar conhecimento usando a escrita para tal. Plantando e podando árvores por aí.