Síndrome de Burnout — Até que ponto é apenas alta produtividade?

Uma reflexão sobre o dia a dia de pessoas que, como eu, possuem auto cobranças

Pâmella Fialho
6 min readSep 20, 2021
Imagem com um texto em inglês que significa “saúde mental importa”. Retirada do site Unsplash e criada por Marcel Strauß.

Não sou psicóloga, isso é fato. Mas hoje em dia não precisamos ser para identificarmos quando nosso organismo não responde mais normalmente ao que gostaríamos. Resolvi escrever esse texto como uma maneira de externar o que muitas vezes eu passei (ou ainda passo). Ademais, tenho certeza que existem pessoas, assim como eu, que são acometidas com a confusão e desgaste do dia a dia.

A fim de tornar todo o assunto mais inteligível, apresento primeiramente a definição de Burnout.

Síndrome de Burnout

A OMS define Burnout como “uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”. Existem 3 pontos que são considerados nessa síndrome: sensação de esgotamento, cinismo ou sentimentos negativos relacionados a seu trabalho e eficácia profissional reduzida. Isso significa que uma pessoa pode inclusive deixar de ter satisfação profissional.

O Ministério da Saúde ressalta que é considerado um distúrbio emocional resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade.

Alguns dos principais sintomas são nervosismo, cansaço excessivo físico e mental, dor de cabeça frequente, pressão alta, dores musculares, alterações no apetite e no humor, insônia, dificuldade de concentração, sentimentos de fracasso, incompetência e insegurança, negatividade constante e isolamento.

Dá para notar o quanto o problema é bem mais embaixo.

O nosso dia a dia

Ter um alto índice de produtividade é o que todas as empresas querem de seus funcionários. É o que toda pessoa quer ao fazer cursos e trabalhar. Mas até que ponto isso é considerado saudável?

Veja só algumas manchetes alarmantes sobre Burnout:

Manchete do Folha Vitoria que diz “Brasil é o 2º país com o maior número de pessoas com Síndrome de Burnout”. O subtítulo diz “além disso, o País também apresenta a maior taxa de pessoas que sofrem com ansiedade e o quinto em casos de depressão”.
Manchete do Superinteressante que diz “OMS classifica a síndrome de burnout como doença”. O subtítulo diz “sim, esgotamento profissional não é mimimi. Entenda se você pode estar passando por isso”.

Manchetes como essas têm sido cada dia mais comuns. As pessoas pararam de pensar sobre sua saúde mental, o seu bem-estar e até mesmo o que gostam de fazer. Não tem nada de errado em você gostar do seu trabalho ou de fazer alguns cursos.

O problema sempre está nos excessos sutis.

Pode até parecer contraditório, considerando que, pela lógica, os excessos são facilmente perceptíveis. Mas faz todo sentido, porque nem sempre percebemos esse excesso sutil que vem devagar e começa a tomar conta de nós. Você pode pensar “eu só estou sendo muito produtivo” e concluir que não está viciado em trabalho, por exemplo. Contudo, estamos sempre ocupados e cheios de tarefas para fazer, reuniões para participar, decisões para tomar. Nossas tarefas passam a não caber dentro de 24 horas e nunca concluímos o que precisávamos.

A pandemia acarretou uma mudança brusca e intensa, por vezes difícil, e o despreparo de empresas, universidades e até de nós mesmos teve como consequência a dúvida “estou livre ou ainda estudando?” ou “estou livre ou ainda trabalhando?”.

Falando sério por aqui, já parou para pensar quanto tempo você dedica para si mesmo? E quanto tempo leva descansando? Se é que você realmente descansa. Isso é, sem tantas coisas na cabeça.

Precisamos lembrar que somos pessoas e não máquinas. Nosso organismo pode pifar a qualquer momento. Não é sendo apocalíptica, mas isso é um fato. A vida é frágil e também passageira. Cuidar da nossa saúde não é luxo, mas sim necessidade.

Os limites da corrida pelo sucesso

Sem saúde não somos nada, portanto, é a primeira coisa que precisamos cuidar. Afinal, como estudar sem saúde? Como trabalhar sem saúde?

Precisamos conversar com nossos líderes, chefes, professores, mentores sobre isso. Precisamos falar sobre Burnout, sobre esgotamento físico e mental. Acima de tudo, é necessário impor limites, quando necessário. A pandemia nos faz estar 24 horas em casa, mas não nos torna disponíveis o tempo todo. Para obtermos sucesso no que fazemos não é preciso diminuirmos nós mesmos e sacrificarmos a nossa saúde, a nossa essência.

Muitas vezes me cobrei muito por tarefas que fazia e, além disso, quando parava de fazê-las, sentia que estava atoa ou que não estava produzindo. Mesmo finais de semana, via pessoas postando cursos, certificados, tarefas feitas e eu pensava “não estou fazendo nada agora, estou sendo improdutiva”. Mas por que eu estou errada em descansar? Isso não é um problema. Entretanto, infelizmente havia criado na minha cabeça.

Deixo claro que não é uma crítica às pessoas que fazem cursos aos finais de semana, de maneira alguma. Minha consideração acerca desse assunto é sobre a obrigatoriedade de estarmos sempre produzindo. Descansar, dormir, olhar para o teto um tempo, sair, deixar o computador e celular de lado, não te fazem menos produtivo ou incompetente.

Algumas pessoas me disseram “não se meça com a régua dos outros”. Cada pessoa tem seus gostos, trajetória, desafios. E isso tento dizer a mim mesma todos os dias, por mais difícil que seja. É a mais pura verdade. Cada pessoa vai ter um tempo para chegar a algum lugar e não sabemos quando. Pode ser hoje, amanhã, semana que vem ou quem sabe anos.

Sim, precisamos conversar sobre Burnout, carga excessiva de tarefas, ausência de limites no trabalho e nos nossos ambientes acadêmicos. Você pode descansar e está tudo bem. Mesmo.

Você não é uma máquina, você é uma pessoa. Portanto, cuide de você.

Ser produtivo não significa estar disponível o tempo todo, assim como não significa ter de realizar muitas tarefas em finais de semana só para mostrar que é produtivo. Produtividade é fazer o que precisa, mas sem auto cobrança excessiva. Ser produtivo é realizar o que precisa com o tempo que se tem, com dedicação, mas com cuidado.

Caso não consiga lidar com tudo isso sozinho, procure um profissional. Não tem coisa melhor do que ter alguém que entenda o que você sente para lhe ajudar a ver as coisas de outra maneira. Nem sempre amigos e família conseguirão ajudar com isso, mesmo que passem pela mesma situação.

Nada em excesso é saudável. Basta pensar em uma mesa cheia de doces. O que aconteceria se você comesse tudo de uma vez? Ou quem sabe pensar nas demandas do seu trabalho. O que aconteceria se não produzisse mais nada? Fica a reflexão.

Conclusão

Aproveite a vida e não se cobre tanto. Acredito que essa seria uma das frases que eu diria para você agora. Nossa cobrança por alcançar tantas coisas faz com que não enxerguemos a nós mesmos com carinho. Precisamos repensar a forma como estamos vivendo e como estamos produzindo e traçar alternativas para que possamos conseguir realizar nossos objetivos sem comprometer nossa saúde mental. A vida é frágil demais para deixarmos de lado.

Minha mensagem com esse texto é para que você e eu cuidemos do que temos de mais precioso: a vida.

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Pâmella Fialho

Alguém que curte aprender coisas novas e compartilhar conhecimento usando a escrita para tal. Plantando e podando árvores por aí.